Minha relação com a Colômbia iniciou após o término do meu mestrado em Arquitetura e Urbanismo, na Universidade Federal de Minas Gerais, em 2011 onde dissertei sobre a relação do universo digital influenciando comportamentos no espaço urbano. Comecei me interessar pelas cidades, principalmente, pela história do urbanismo mundial. Sou curiosa em conhecer propostas urbanas e como influenciam os modos de viver.
Nesta mesma época, assisti no evento Fronteiras do Pensamento a palestra do prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa , que trouxe o case da mobilidade urbana como fator chave para o desenvolvimento da cidade.
Pouco tempo depois, em 2013, Medellin foi eleita a cidade mais inovadora do mundo pelo Urban Land Institute (ULI), ganhando fama e admiração no cenário mundial. A titulação considerou a construção de infra-estruturas integradas de transporte público, as quais reduzem as emissões de CO2, apoiaram o desenvolvimento social de zonas marginais, a redução dos índices de criminalidade, a construção de equipamentos e espaços culturais, e a gestão de serviços públicos. Em 2019 através do Poa Inquieta, especificamente na pessoa do Cesar Paz, fiquei ainda mais interessada e Medellin entrou para o meu radar.
Até que 10 anos depois, por coincidência e acaso, venho a conhecer Medellin e me aprofundar um pouco na sua transformação de cidade mais violenta do mundo para cidade mais inovadora do mundo. E quando falamos em inovação em mobilidade, logo vem a cabeça carros elétricos e autônomos. Só que não. O foco da inovação em Medellin é de caráter local, através de pesquisas que colhem e trabalham dados para tomar decisões mais acertadas de como empregar a tecnologia a problemas da cidade. Se trata de resolver problemas que impactam diretamente na qualidade de vida das pessoas, seja com soluções para as classes de menor poder aquisitivo ou de impacto geral, além em incentivar o empreendedorismo e o estabelecimento de novas empresas na área de tecnologia.
Projetos de mobilidade urbana são um divisor de águas para a segunda maior cidade da Colômbia. O acesso às pessoas da periferia, através da adoção de um teleférico como meio de transporte de massa propiciou redução no tempo de deslocamento e mais facilidade para conseguir empregos, por exemplo. Com suas diversas montanhas e morros, esta é hoje a melhor forma de se locomover em determinados locais, com tudo integrado a outros meios como ônibus e metrô.
Além disso, as comunas contam também com longas escadas rolantes que fazem o transporte de milhares de residentes de comunidades mais necessitadas que não tem acesso aos os teleféricos. E uma coisa leva a outra. A Comuna 13, a “favela” mais violenta da cidade, após receber as escadas rolantes, iniciou um processo idealizado pelos próprios moradores de, através da arte, pacificar o local. Atualmente recebe turistas do mundo inteiro com um olhar curioso sobre a história e o desenvolvimento da região, contados através de moradores orgulhosos do que construíram.
Toda essa revolução em Medellín não nasceu de uma hora pra outra. Um dos grandes saltos se deu com o surgimento de um distrito de inovação chamado Ruta N, criado como parte de um esforço para reduzir a dependência da cidade em relação à indústria e ampliar a participação da economia digital no PIB. O Ruta N oferece espaço, capital e possibilidades de investimentos, expertise, processos de aceleração e incubação, além de outros apoios necessários para a criação de startups e atração de empresas de tecnologia digital.
Na contramão dos projetos de cidade inteligente em que a tecnologia é encarada como um fim, em Medellín, ela serve apenas para se chegar a algo maior: a qualidade de vida, sem discriminação. E isso vem fazendo toda diferença. Claro que nem tudo são flores. A cidade tem muita pobreza e diferença de classe social abismal. Alguns bairros são inseguros e muitas famílias na rua pedem comida ou vendem algo local.
Mas ter acesso fácil e barato ao centro da cidade modificou a vida das comunidades mais pobres, trazendo dignidade e ampliando possibilidades.
Eu particularmente gosto muito do exemplo de Medellin, da valorização da cidade e do olhar sob o espaço público como algo aberto e acessível. E foi muito bom poder viver a cidade. Subir a 2.500m de altitude de metrocable foi uma experiência única. Enquanto estive em Medellín, acontecia o South Summit, onde a pauta da inovação estava efervescente em Porto Alegre, com inúmeras reflexões sobre a mobilidade urbana na cidade. Implementar as ideias trazidas é um desafio para tornar nossa cidade mais responsíva e proporcionar qualidade de vida aos cidadãos, entre outras coisas. O exemplo Colombiano mostra a união da iniciativa pública e privada com a valorização e participação
do cidadão é chave de sucesso para transformações.
Que delícia de texto!